12.6.08

Vitória sobre a imprensa

Ao contrário do que muita gente que me conhece deve imaginar, já fui fã legítimo de futebol. Até mais ou menos os doze anos, fui um infeliz embora alegre tricolor, satisfeito com aqueles jogos medíocres do Santinha, que vivia uma época mais saudável, aliás. E sempre fui conhecido como pé-quente.

Meu pai garantia que eu dava sorte e por isso sempre me carregava pro estádio, o que terminou gerando em mim um sentimento de responsabilidade como torcedor. Nunca vi o Santa perder, e olha que ele perdia e eu já fui ver muito confronto no Arruda. Acho que realmente passei a acreditar no meu poder depois que vi meu antigo (e quase extinto) time vencer o Palmeiras e o Flamengo.

Depois dos anos, passei a não suportar futebol. Mais ou menos na época em que eu não suportava praticamente nada. E talvez por isso. Meu pai, é claro, ficou decepcionado e eu até carreguei um certo peso na consciência, achando que o Santa nunca mais iria sair do lugar. Provisório, porque logo passei a simplesmente não ligar. Meu pai, durante anos, tentou insistentemente me levar ao estádio e já marcou em jogo até pra comemorar seu aniversário - comigo. E eu fui. Obviamente, não deu outra, e o Santa ganhou. Após o episódio, nunca mais visitei um estádio, e o Santa está afundando.

Na vitória ou na derrota, com os anos relativizei meus valores e alguns ódios foram embora com as espinhas. Quanto ao futebol, por exemplo, deixei de odiar o esporte pra ter um certo incômodo apenas com o que se faz dele, como a glamurização midiática e, principalmente, o comportamento de algumas torcidas. Não agüento torcidas organizadas e odeio buzina torcedora. Seja Cazá Cazá ou O Timbu Vai te Ensinar, já penei a dormir em algumas noites de vitória do futebol pernambucano. Ainda bem que os torcedores do Santa não têm carro.

Entre tantas mudanças, só algo se manteve igual ao longo de todo este tempo. Sempre alimentei toda a repulsa do mundo à torcida, às piadas, aos gritos de guerra, aos jogadores, às cores, ao clube do Sport. O ódio ao Sport é genuíno e uma das coisas mais arraigadas que ficaram da minha criação. Absorvi literalmente tudo que meu pai sempre falou e, seja ou não um resquício de fé (às avessas) no futebol, não há razão que explique essa minha agonia do que é rubro-negro.

Ontem, porém, aconteceu algo de diferente. Terminei caindo no que sempre considerei um espetáculo chato e torci pelo time que odiava. Acho que, inevitavelmente, aderi ao esquema de valorização do futebol pernambucano como algo político. Não que tenha sido planejado. Mas é impossível não ficar incitado a gritar e vibrar com o contágio geral dos amigos, que não se segura. Especialmente quando se evidencia que a briga do Sport foi muito maior do que uma final qualquer, mas uma batalha contra o etnocentrismo sulista, em mais uma de suas facetas, e ao gerenciamento preconceituoso da transmissão dos jogos, seja pela Globo, Band ou SporTV.

Assistir ao jogo do Sport na TV foi como, no Brasil, torcer pelo time adversário em um jogo da seleção. Vibrar por uma equipe que, ao alcançar bons resultados, gera comentários tristonhos do locutor e de seus assessores de blablabla televisivo, que renegam e desvalorizam sua luta, subestimam seus potenciais e por isso seguem a corrente contrária de vibrações. Quando o grito de gol do loucor, enfadonho e exagerado, surgiu fraco e desinteressado, o Sport se dobrava e redobrava para manter a postura e a auto-estima. A torcida fazia ainda mais festa, uma festa que poucos sabem. Porque na Globo, só se ouvia os gritos do público corintiano, a serviço de quem os microfones estavam posicionados. E só quem sabe o que foi a Ilha do Retiro na noite de ontem - eu realmente não sei - é quem estava lá.

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