31.12.06

And a happy new year

O grande presente de fim de ano da humanidade é na verdade um presente às avessas. Desde ontem uma notícia bem distante tem me incomodado profundamente. A execução de Saddam Hussein encerra um clico de décadas de violência intermitente envolvendo tanta gente diferente. No fim, com mais violência, parece que fica estampada em cima de toda a História uma única perspectiva: a do Imperialismo que prevalece sobre qualquer fim.

Assistam a mais um espetáculo. Desta vez, uma morte a la Inquisição é o destino do mais célebre ditador das últimas guerras. O evento, pra mim, é de fato a inquisição de um sociedade ocidental. Top notícias no Folha Online comprova um caráter estritamente sensacionalista nos jornais:

1. Saddam é enterrado ao lado de dois de seus filhos
2. TV mostra últimos momentos de Saddam; assista
3. Criminosos voltam a atacar forças de segurança no Rio
4. Morte por enforcamento leva três minutos
5. Saddam é enterrado e novas imagens mostram confusão na execução

Não comento as outras três, mas achei essas duas manchetes de uma relevância hilária.

Desejaria um bom ano a todos mas, pros muçulmanos, não é mesmo ano novo. Então, pra vocês, brasileiros, feliz 2007. Sem forcas. Bye!

27.12.06

Morangos

O fim de ano enfim chegou e certamente uma das polêmicas mais bizarras de 2006 foi justamente a que encerra as últimas semanas. A milionária boate NOX, seguindo uma "tendência seguida nas casas mais refinadas do mundo", segundo sua assessoria, resolveu forrar mictórios com morangos. Há relatos inclusive de que os morangos usados são bem frescos e carnudos, daqueles pacotes que valem algo suficientemente caro pra alimentar uma família.



Não importam os costumes das empresas em Paris ou New York, é lamentável que exista um tipo tão extremo de insensibilidade a ponto de, no meio de uma região cheia de esfomeados, como o nordeste brasileiro, alguém ser capaz de mijar em frutas tão caras que por si só já poderiam ser consideradas um culto desesperado ao supérfluo.

Meu pedido pra 2007 não é altruísmo, não. Não quero tanto. Mas individualismo com bom senso seria bom.

Depois de Morangos Silvestres e Morangos Mofados, vem aí o último capítulo da trilogia, grátis em CD-Rom na compra de uma panela Tramontina e uma bisnaguinha de agrotóxico.

26.12.06

You are hardcore, you make me hard

Acho que outra vez dessas, em algum outro blog, já fiz alusão a uma das coisas mais fodas que já ouvi na música pop. O nome é This is Hardcore, disco do Pulp lançado em 1998 que chegou ao topo das paradas inglesas. É incrível como uma obra lançada 20 anos depois da formação de uma banda consegue ter canções tão precisamente bem feitas do começo ao fim, culminando, é claro, na música de nome homólogo ao do álbum. Unidade do caralho.



Quando se falar em fórmula pop, eu fico com o Pulp.

25.12.06

Pra você

The Notwist - Solitaire

We're more than
overwhelmed
by hundreds of hugs and
a million good words.

We are
satisfied
from monday til friday
and on sunday we cry.

But we like it
from that point of view,
so we stay here and bare until dawn everyday.
And we stay here and bare everyday.

We never ever lie.
From ten in the morning
we are honest til nine.
We are overcute.
We never will manage to be rude only twice.

But we like it from
that point of view.
So we stay here and bare until dawn
everyday. And we stay
here and bare everyday.

Truffaut versus Jabor ou qual o melhor presente de Natal

De um lado, Jules e Jim, clássico francês de 1962 de François Truffaut. No clima fluido da Nouvelle Vague, Jeanne Moreau fica no meio de um triângulo amoroso entre dois melhores amigos, um alemão e um francês.

De outro, Eu sei que vou te amar, cult-movie do Arnaldo Jabor que, em 1986, deu o prêmio de melhor atriz em Cannes para Fernanda Torres. Um casal discute o desgaste da relação durante duas horas cheias de humor e drama.



Minha mãe me dá o primeiro. Tiago me dá o segundo.

Cena seguinte:

Tiago: Vi Jules e Jim na loja e até pensei em te dar. Mas achei o outro e pensei que seria mais especial.
Luís: Eu gosto muito dos dois.

Em seguida, casualmente eu viro o DVD do Jules e Jim e leio o comentário na edição:

"Nunca haverá filme de amor como esse".
Arnaldo Jabor

E ao fim da festa do Natal...

Direto da ceia pro Parque da Jaqueira bucolicamente sonolento e vazio, um casal de namorados vai tirar fotos do mundo e da vida com uma Yashica 109, semi-eletrônica, eu acho. Bela experiência. Mas só a revelação dirá quanto.

24.12.06

O Google acha

Inocentemente, botei "she wants revenge" na busca do Google Imagens e achei o sósia de um amigo meu. Tem aquela história pseudocientífica de que todo mundo tem uma única pessoa no mundo com o código genético idêntico. Pra quem achava que era lenda...



Tá aí Rodolfo numa nice, curtindo as gatinhas em Atlanta sem ninguém saber, ao som de I Don't Want To Fall In Love.

Próxima invenção revolucionária do Google: Google Double Finder

Presente de Natal

21.12.06

Pall Mall



Não, eu não fumo Pall Mall. E nem entendo o que esse outdoor diz. Mas, em português, a sacada da propaganda do cigarro (não em outdoors, já que é proibido, mas em pontos de venda) é, ao mesmo tempo, irônica, cruel e divertida, genial. Algo como:

Pall Mall, 106 anos e ainda saindo toda noite.

É mesmo pra eu imaginar que, mesmo fumando Pall Mall, vou chegar ao meu centenário passando as madrugadas em botecos bebendo pra caralho e, é claro, fumando? Ou, OK, talvez o cigarro simplesmente não vá me matar antes disso. O fato é que a propaganda, por fim, sugere:

Imagine-se.

Ao telefone

A: Alô?
B: Alô.
A: Bom dia!
B: Bom dia! Tava dormindo?
A: Não.
(...)
A: Ei, TU TÁ NUM TREM?!
B: Não, mas tem um ventilador aqui do lado.

20.12.06

Um pão, um deputado, um jornal ou sandalinhas da Xuxa

Não costumo ficar efetivamente intrigado com esses abusos de poder correntes na política (inter)nacional, mas esse proposto aumento astronômico no salário dos parlamentares me incomodou profundamente. Primeiro porque, de fato, é um abuso injustificável pela inflação (se o aumento seguisse a inflação dos últimos anos, o salário deveria ser reajustado para R$ 16.500, e não para R$ 24.500). Segundo porque toda a confusão que se desenrola pela opinião pública não se torna nada mais que mais um grande espetáculo sem enredo consistente nas telas e nos jornais. Dá até um mini-impulso anárquico lá no fundo contido do bom senso da gente. O fato é que eu acho hilária, digna de pesquisa acadêmica, essa relação doentia entre poder-poderosos-desprovidos onde os célebres políticos tornaram-se personagens da novela da meia-noite, horário de Brasília. Olhem só, não vão perder, o gênero é terror (ou seria drama?), censura 18 anos, em qualquer cinema. Vai lá, na Folha Online, enquanto que o reajuste dos parlamentares está na pauta do "Brasil", o do murcho salário mínimo está em "Dinheiro". Não importam os jornalistas, algum parlamentar me explica?

Dois. Comparando preços. A cada R$ 1 de reajuste no mínimo, o governo tem um gasto entre R$ 190 milhões e R$ 200 milhões ao ano. Se esse aumento de - meu Deus - 91% no salário parlamentar fosse aprovado, os cofres públicos teriam um gasto anual de R$ 1,66 bilhão extras. Isso significa que, se o aumento do salário dos engravatados fosse revertido em salário para os trabalhadores, muitos brasileiros iriam ganhar cerca de 8 reais a mais, por mês. E a pergunta: quantos menos parlamentares há em relação ao número de pessoas vivendo nas ruas, essas que vivem paradoxalmente com menos que o que chamaram de mínimo?

Discurso clichê? A boa notícia é que (para aqueles que pelo menos isso tem) o salário mínimo deve receber aumento de R$ 380, segundo acordo fechado entre ministros e sindicalistas. E isso é ótimo porque é de fato mais valor agregado ao mínimo (sem aumento real, o reajuste deveria ser para R$ 367). Mas, na minha modesta (e nem um pouco economista, embora um tanto cidadã) opinião, isso não justifica qualquer aumento real no salário de parlamentares, porque o Brasil não é um país com riquezas, eu diria, tão dignamente ditribuídas a ponto de deixar de investir naqueles que não tem e dar um pouco mais àqueles que já esbanjam. É óbvio que 1% no salário da Xuxa daria de comer a um monte de gente que não tem nem as sandalinhas. Absurdo.

Constatação

Tava discutindo aquela bugiganga toda sobre mídia e surgiram uns comentários até divertidos. Algo como. A Rede Globo é a música ambiente da classe média.

19.12.06

I'm singing in the rain

Chuva pra caralho. Entendi agora as motivações de São Pedro em fazer de um mês inteiro uma sauna a céu aberto. Tá caindo tanta água que eu ainda não tive coragem de olhar pela janela por mais de dois segundos. Só deu pra ver o crepúsculo forçado do céu em plenas 11 horas da manhã. Aqui do lado, no estágio, já quebrou até um telhado e, sabe como é, de telha em telha tenho medo que seja o apocalipse. Só falta a aurora boreal e a consumação das previsões da Universal do Reino de Deus.

Enquanto isso, as pérolas do MSN:

A says:
TEM ÁGUA ENTRANDO POR BAIXO DA PORTA :~~~
VOU MORRER QUE NEM LEONARDO DICAPRIO NO TITANIC
;(
B says:
JAAAAAACK
JAAAAAAAAAAAAAAAAAAACK

B says:
CARAAAAAAAAAAAAAAAI
RELAAAAAAAAAAAAAMPAGO
MUITO FORTE
parece que tiraram uma foto no meu quarto
vi o flash de Deus

B says:
almoço sai meio dia aqui
é peixe, pirão, arroz...
tudo a ver com o clima
ahahahhaa
A says:
hahaha
porra
tinha que ser uma massa
e um vinho djiliça

A says:
É TROVÃO
É RELÂMPAGO
que maravilha
quero dançar
B says:
ahahahahahahahhaa
A says:
me sinto num filme de paul thomas anderson
só faltam os anfíbios

Enquanto a chuva não passa aqui, ACM Neto é esfaqueado e, veja só!, o STF derruba o reajuste no salário dos parlamentares. Se o temporal deixar, espero estar inteiro pras cenas dos próximos capítulos.

Lynch independente e sem película



Vem aí­ o novo trabalho do Lynch que eu espero ansiosamente há mais de um ano: INLAND EMPIRE, assim mesmo, todo em caixa alta. Os fãs sabem que o último trabalho do diretor foi em 2001, na Mulholland Drive que eu gosto muito mais que a trivial Cidade dos Sonhos em português. O novo do Lynch é totalmente independente, é o mais exageradamente bizarro desde Eraserhead, dizem, e agora com duração em dobro: quase três horas. Lynch mantém sua parceria com os franceses do Studio Canal+ e não só cria livremente com os personagens controvertidos de (mais uma vez) Laura Dern, Justin Theroux e, desta vez, Jeremy Irons, num clássico (mesmo que, no caso de Lynch, nem tanto) papel metalingüístico de diretor de cinema, como também cuida diretamente da distribuição. O Globo diz que, desta vez, Lynch tem "ou uma obra-prima ou uma loucura total". E a imprensa internacional se divide entre aqueles crí­ticos mais conservadores da narrativa tradicionalesca e os ficcionados nas loucuras prazerosamente visionárias do diretor que, agora, faz o advento da tecnologia do digital. Pra ele, a opção permite uma liberdade extrema de criação. OK, né. Eu tô no aguardo ansioso, quem me conhece sabe. E espero surpresas, sempre. Lynch (como se vê no trailer) faz uma volta aos coelhinhos esdrúxulos interpretrados, em Rabbits, por Naomi Watts e Laura Elena Harring, consagradas pelas paradoxais interpretações no último filme de David Lynch, uma verdadeira obra-prima, eu arrisco sem medo de errar. E Laura Dern numa atuação que me intriga mesmo antes de assistir. Esperem.

O site oficial do filme: www.inlandempirecinema.com

Pra quem também tá no aguardo, o filme já estreou em algumas cidades norte-americanas e, quem sabe espero-não-esperar-muito em breve aqui no Brasil, talvez no Recife. Certamente há quem torça que nem eu.

16.12.06

Darren Aronofsky não sabe amar

A impressão que Fonte da Vida passa é que Aronofsky nunca foi tão desastrosamente pretensioso. Penso que ele possa ter resolvido fazer cinema sobre uma causa maior - o amor - e terminou desabando num melodrama clichê e superficial. O amor de Aronofsky é o amor das novelas. As obsessões de Réquiem para um Sonho e de Pi tornaram-se obsessões mundanas e triviais e os simbolismos obscuros deste último se converteram num acervo holí­stico de símbolos religiosos e mí­sticos numa desarmonia estranha que me lembra o Código da Vinci. Salvo umas três cenas.

14.12.06

Debate terminológico sobre o pop não(?)-sofisticado

Sabe, dois amigos que têm preferências estéticas às vezes diferentes mas que certamente têm opinião relativamente similar sobre a esfera da música pop e a iconizada rainha do mainstream - e todos sabem de que madona (assim, com apenas um n) eu estou falando. Enfim, dois amigos certamente não-tão-diferentes-assim discutem o show da turnê Confessions. Os dois concordam que técnica e tecnologicamente é foda, que é kitsch mas é divertido e que etcetera. Mas a gente sempre tem que discutir a palavra derradeira. Afinal, o que é sofisticado nessa vida? E na música, então? Eu tenho uma acepção de sofisticado bastante aplicável à tal turnê. E creio que Ruth Rocha concordou comigo.

A propósito, ps. principal: não sou fã.

O disco inicial

Tudo bem. Me apresentam o Midlake e eu passo alguns dias ouvindo eternamente o The Trials of Van Occupanther, deste ano que se encerra. Casualmente resolvo então baixar o anterior - Banman and Silvercork - e, o que é isso?, é muito melhor! Dois comentários:

1. Radiohead, Flaming Lips, Travis pra caralho. Todas as apostas certeiras nas influências que a Wikipedia vem apostar junto.
2. Banman and Silvercork é um nome excêntrico pra caralho. Eu sempre termino escrevendo Banman and Silvercock. Melhor nem tentar entender...

Concordar com a Wikipedia deve ser sinal de esperteza, não é mesmo?