19.4.09

Entra em cena o off



A Carreira de Suzanne (Carrière de Suzanne), de Eric Rhomer, 1963, prosa cinematográfica. Às vezes o excesso poda, às vezes cabe.

8.4.09

Veckatimest


OK, o novo do Grizzly Bear tá tomando minha semana (porque o Brooklyn é a cada mais o lugar). Um dos meus discos preferidos de todos os tempos (com muito amor, mas sem pretensão de canonizar) é o Yellow House, desde Knife até Control and Remote e Marla. É uma das obras mais melodicamente suaves e nem por isso extremamente piegas que eu conheço. Aliás, acho que o CSS ter feito cover de Knife é um pouco ilustração dessa segunda ideia, já que eles são certamente anti-piegas, ainda que um tanto afetados mesmo assim. De qualquer forma, Yellow House também é um dos discos que me deixam naquele estado pré-choro, que quase sempre é o máximo que eu consigo atingir no quesito revival da emoção teenager (algo que eu só vivenciava com intensidade quando se tratava de destructive noises como em How To Disappear Completely).

Veckatimest é bem menos apelativo quanto às sobreposições melódicas que atravessam todo o disco anterior do Grizzly Bear. No lugar destes devaneios da melodia existe é uma precisão bizarra (no bom sentido) em afiar as camadas harmônicas das canções, como se cada detalhe delas enfim se emancipasse, e cada impressão de conjunto (cada faixa ou mesmo o próprio álbum) fosse, ao mesmo tempo, uma colcha de retalhos imperceptíveis ou um lençol picado em que cada pedacinho fosse suficiente pra aquecer numa noite de frio. Cheerleader é a que, por enquanto, considero a mais linda, e também emblemática. É só observar - claro, sem se apegar aos pormenores - o crescente harmônico, esperando que ele se exceda e, ao mesmo tempo, desejando que não - e ele não se excede. Talvez por isso até pareça um disco menor. Li por aí alguns falando em maturidade. Ainda choro mais pelo anterior, mas o que me intriga é este aqui, que parece sintetizar num disco de banda pop - enfim, um disco grandiosamente pop - várias recorrências provocativas do avant rock dos últimos anos. Sem querer me viciar nesses maneirismos, dou 10.

A propósito, nada a ver, mas Lula Queiroga me disse numa entrevista que o bom de lançar o terceiro disco é que as pessoas passam a considerar o conjunto de sua obra antes de falar qualquer coisa. Acho que com Veckatimest (ou com o Grizzly Bear, atualmente), ocorre um pouco isso. E esse disco é certamente uma obra ímpar.

1.4.09

A caminho de Maryland #4

A caminho de Maryland #3

A caminho de Maryland #2

A caminho de Maryland

O esqueminha fora do eixo é mesmo invenção de Kátia Mesel. Baltimore, cidade mágica de onde surgiu o Animal Collective, no estado de Maryland, fica ali do ladinho de New York. É que quando li isso aqui , não consegui não pensar no hype Recife, que aliás eu normalmente nem entendo muito. OK, bairrismo ingênuo. Mas é que, apesar dos exageros, restam as coincidências. Porto e adeus de quem vislumbra um debut promissor na carreira e vai pros Brooklins da vida não tem em qualquer cidade do mundo.

Aliás, essa história de eixo é coisa que só faz sentido do terceiro mundo pradiante. Mesmo assim, lanço a charada: se Recife fosse Baltimore, nosso headliner musical seria... (essa é fácil, quem acertar ganha um chiclete de lama). É assim, de um lado temos o Panda Bear, do outro os crabs...

11.1.09

Très rouge


Só ontem vi o último episódio da trilogia das cores, após um imenso vácuo de tempo entre o dia que vi o segundo, A Igualdade é Branca. Cresci com o costume de, mesmo sem ter visto, considerar A Liberdade é Azul uma das pérolas de um cinema de possibilidades, dada a forte relação afetiva que minha mãe tem com este primeiro episódio, desde o seu lançamento. Por isso aprendi, quando finalmente assisti ao filme, a gostar de Juliette Binoche só pelo fetiche finesse francesa.

Acontece que só anos depois assisti à Igualdade é Branca (e eu já tinha aprendido a gostar de Julie Delpy nos de Richard Linklater, mesmo sem entender), e cá estou eu um pouco transtornado após a exibição de A Fraternidade é Vermelha. Acho triste que a obra de despedida de Kieslowski seja a que mais me soou esquemática. As proposições do episódio, misturadas em uma falsa estética de mosaico, apresentam, como material bruto, a mentira cruel de que, para constituir uma complexidade para a moralidade das relações humanas, possamos cristalizá-la em um roteiro raso de frases - francesas - de impacto, baseado em uma implementação estruturalista da teoria do caos - portanto, pequeníssimo. Não sei se é qualquer tipo de maturidade, mas prefiro a memória densa - e azul - de Binoche na piscina, a leveza consciente, pálida, de Delpy, ao vermelho amargo de Jacob, síntese de um existencialismo kieslowskiano que, nos anos 90, tornou-se taxativo. Se seu cinema é o cinema do detalhe, fico mesmo com a boa lembrança de pequenos (porque delicados) instantes da trilogia, mas saio dela com a impressão de que, da minúcia, a busca de Kieslowski passou a ser grandiosa demais, apontada ao que é intangível.

Vampirizando os gêneros


Em A favorita, Flora passou de mocinha dúbia e misteriosa a vilã, ainda dúbia, e enfim tornou-se completa e caricaturalmente cruel. Mais recentemente, porém, a ambigüidade voltou, após o autor revelar, em diálogos entre os personagens: Donatela, a então mocinha (mesmo que, em algum momento de sua história, razoavelmente multifacetada) deseja derrubar Flora, a todas as custas, movida por ódio mortal, enquanto a vilã, ainda que perversa, homicida e psicopata, deseja, sim, afundar Donatela em desgraça, mas por motivação de um incrível amor recalcado.

Enquanto isso, as sequências essenciais da novela - aquelas que de fato movem os personagens principais num universo de espaço, tempo e tema - contornaram o que fora um inicial fracasso comercial da novela, quando todos os televisores se desligaram. Agora, a novela suga os tipos da melhor ficção emblemática de horror trash, noir e de perseguições tensas: os momentos-chave tornaram-se sanguinolentos e apoteóticos e a encenação, por onde Flora passe, reveste-se (esse é o verbo: tudo é declaradamente artificial) de pompa e tosquice. Mas isso não é defeito. A favorita enganou o tempo todo e, mesmo quando disse, preferiu não se entregar ao dito e feito, fazendo, até o fim, um caminho (difícil de trilhar, por questões técnicas e mercadológicas) de resistência, às vezes falha, à caretice da teledramaturgia.

9.1.09

Consolo progressista

Fábio me deu vontade (e incentivou a coragem) de escrever de novo. Como é janeiro, tempo de resolução e festa, vou dar uma chance a esses ímpetos, mas prometo a mim mesmo que, desta vez, vou tentar, com todas as forças, não fazer cena.

Não escrevo mais de uma vez por dia pra não esgotar projeto em epifania.

3.1.09

Consolo obsoleto

Ia chorar a morte do trema. Graças a Deus, ainda existe Gisele Bündchen.

Mas até que o idioma vai ficar mais charmosinho sem tanta bugiganga.