tag:blogger.com,1999:blog-380481352024-03-13T15:54:58.272-03:00Nada muito doceLuís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.comBlogger102125tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-78435966921550263312013-07-09T00:07:00.002-03:002013-07-09T00:10:29.631-03:00Usar o 3D para filmar o plano, parte 2O fazer inventariante de Werner Herzog em <i>A caverna dos sonhos esquecidos</i> não me parece tão distante daquele empregado por Jean-Luc Godard em sua própria arqueologia da imagem, cuja marca maior na minha memória são suas pontuadoras <i>Histórias do Cinema</i>. Há o desejo de encarar um espírito perene que atravessa a história e inscreve seus rastros em sua matéria - paredes de gruta, negativos e positivos, écrans, VHS, HDs -, bem como a consciência da planaridade das superfícies de projeção, a urgência de que se filme a própria tela e o uso artificioso das tecnologias que, feitas como armadilha, vestem saias justas na ideia de que o cinema está edificado como testemunho definitivo.<br />
<br />
Godard, de um lado, provoca o testamento de imagens agora tornadas perecíveis, finitas. Até onde vai a história?, questiona, provavelmente a ser desta forma bastante culpado pela paranóia de um certo fim do cinema que o estocou em videolocadoras e assombrou os anos 1980. Herzog, de outro lado, partilha de um espaço-tempo crente no revigoramento da imagem como artefato maior. Num tempo de cinema de afetos, ele vem reiterar a necessidade de que a imagem, através da história, reencontre o homem, e nele se abrigue, para assim permanecer e se prolongar em nós.Luís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-56079801332705380732013-07-08T01:26:00.002-03:002013-07-08T01:30:18.018-03:00Usar o 3D para filmar o plano<i>A caverna dos sonhos esquecidos</i> (Werner Herzog, Canadá/EUA/França/Alemanha/Reino Unido, 2010)<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-klpUrMfS2ps/Udo_UYugVYI/AAAAAAAAACk/B96IsqJhXGs/s1600/Cave-of-Forgotten-Dreams.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="252" src="http://2.bp.blogspot.com/-klpUrMfS2ps/Udo_UYugVYI/AAAAAAAAACk/B96IsqJhXGs/s400/Cave-of-Forgotten-Dreams.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Ao usar o 3D em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
caverna dos sonhos esquecidos</i>, Werner Herzog parece ostentar com um grito a
consciência de nosso deslize ocular: o olho teima em acreditar que o écran, que
exibe filmes – ou quadros –, deixa-se contaminar pela profundidade. Quando é,
na verdade, tomado por superfície.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se o
cineasta inventa este filme para descobrir um certo tipo de tela, no caso as
pinturas rupestres encontradas por arqueólogos na <span style="text-indent: 48px;">Caverna de Chauvet</span>, França, procede
com a subversão desta noção comum, especialmente quando atrelada ao uso do 3D:
não, o cinema não é um território de infinitos em perspectiva, nos diz, mas da
composição de texturas, impressas pelos desenhos da luz.</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">Em </span><i style="text-indent: 36pt;">A caverna...</i><span style="text-indent: 36pt;">, a tridimensionalidade própria destas telas
paleolíticas, que tinham em sua matéria as ofertas e limites estéticos das
paredes acidentadas da gruta, ganha de fato uma perspectiva tátil, uma vez que
a reprodução da experiência de contemplação, instituída numa galeria asfixiada
por estalactites, é transportada com relevo ótico similar ao da presença sem câmeras.
O olho, percebe-se portanto, não busca os corpos que se movem pelo campo aberto
pela lente, mas as bordas bidimensionais da imagem, onde as pinturas são
investigadas. É como se os quadros de cinema tivessem paredes – e a câmera
resolvesse filmá-las, em vez do campo aberto à ação dos corpos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">Surge, neste sentido, a
ressonância de um espírito modernista que, com o artifício quase sempre cego do
3D, grifa a fatal planaridade da imagem, deixando entrever seu próprio
artifício canastrão de subvertê-la e atingir um estado de permanência efetiva
no mundo filmado. Como se não fosse, pois então, um mero écran.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">Neste apego às bordas destes
quadros emparedados, Herzog nos incita, pela imagem mas também com o auxílio de
um off cheiroso a filosofias platônicas, a distender nossa experiência pelo
espaço-tempo. E este é o seu segundo e maior grande truque: devemos agora
desconsiderar o 3D e nos transportar para o espírito dramático condensado nas
próprias pinturas rupestres. A visão desta imagens arcaicas e tão mirradinhas
perto do circo que é ver as estalactites quase nos tocarem é, embora estática
enquanto matéria, também fluida, narrativa e dramatúrgica se o cinema é algo
que transcorre no campo fabulante da mente. Se o fora de campo encenado puder existir
naquilo que é afetivo, que nos faz históricos e humanos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">É curioso que um dos arqueólogos
entrevistados revele ter, ele mesmo, trabalhado no circo antes de virar
cientista. Não só o 3D é um brinquedo circense como também o é o jogo de luzes
e sombras empreendido pelas lanternas da equipe de filmagem no interior da caverna</span><span style="text-indent: 36pt;">, que simulam lá o
mesmo movimento do fogo pré-histórico dentro da imensidão escura, a encadear e
emprestar movimentos ilusionistas àqueles rabiscos de leão e urso. Bem como é
circense, enfim, a noção de cinema de atrações que representa o achado
arqueológico primeiro do próprio cinema, uma arte de feira cujo passo último
capitalizou o fetichismo das três dimensões.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">A despeito de tantas nostalgias
atravessadas pela história do homem e da imagem e de seu emprego como
artifícios, Herzog parece crer enfim na precedência de um espírito nobre, cuja imaginação,
capaz de viajar pelos seus próprios afetos, tem corpo para desbravar a presença
em outros espaços e em outros tempos, seja através de foras de campo, paredes
de quadro, paredes da história.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 36.0pt;">
<o:p></o:p></div>
Luís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-76173893350616606082013-06-07T10:33:00.002-03:002013-06-07T10:34:43.000-03:00Passaralhos, ficaralhos e a crise no jornalismo<script src="//storify.com/luisfmoura/passaralho-ficaralho-e-o-debate-entre-os-jornalist.js"></script><noscript>[<a href="//storify.com/luisfmoura/passaralho-ficaralho-e-o-debate-entre-os-jornalist" target="_blank">View the story "Passaralhos, ficaralhos e a crise no jornalismo " on Storify</a>]</noscript>Luís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-28408832427300701322013-03-20T20:11:00.000-03:002013-03-23T01:03:20.119-03:00Todo filme é uma crítica frustrada<!--[if gte mso 9]><xml>
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<!--StartFragment-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-oaFpFpeMY5g/UUo9xBndnXI/AAAAAAAAAB4/Eo4_p7aLRIY/s1600/kleber.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="378" src="http://3.bp.blogspot.com/-oaFpFpeMY5g/UUo9xBndnXI/AAAAAAAAAB4/Eo4_p7aLRIY/s400/kleber.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
No momento em que Kleber Mendonça Filho veste a camiseta com
os dizeres do chavão invertido – “todo cineasta é um crítico frustrado” – de
relance ensaia apenas a piada autobiográfica sobre o seu êxodo progressivo
(ainda que com anos de interseção) entre um olhar engajado em ver filmes e
escrever sobre filmes e um outro, em fazer filmes. Na aparência, a ironia
doméstica do cineasta ex-crítico lança aí uma oposição que se realiza sobretudo
no âmbito pragmático, que repetimos por teimosa redundância: cineastas são
locutores – fazem filmes –, enquanto críticos, interlocutores – escrevem sim,
mas porque veem filmes.</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">Este jogo semântico parece
esconder – mas também exibir com um desfoque sob efeito de cócegas – a raiz
mais profunda de uma prática de produção muito miscigenada de dizeres sobre o
mundo, do qual a obra de Kleber parece servir como um exemplo de vísceras
expostas. Ao menos se tomarmos como esse mundo simbólico um palco compartilhado
de encontros politizados – e politizantes – entre formas de ver e dizer. E a
ironia da camiseta toma os contornos de um aceno subreptício, uma falácia que
brinca consigo mesma, um vocês não estão entendendo nada com alguma graça.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desde que
começou a circular em festivais – mas, especialmente, quando chegou ao circuito
comercial – <i>O som ao redor</i> deu
magnitude mainstream à voz de Kleber, a ideia de voz aqui entendida como um <i>colocar-se perante</i>. Na esfera
acadêmico-historiográfica, seu primeiro longa de ficção passa já a ser um caso
empratileirado entre os grandes ou determinantes. No jornalismo, um noticiável
pop bom de venda. Quando se trata de produção de ideias – e o filme contaminou
de ideias ebulitivas todos os corredores que abriu à sua frente, abriu porque
contaminou e contaminou porque abriu –, podemos suspeitar de certas causas
e consequências:</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">Parece haver em torno deste filme
o desconcerto daquilo que é situação, situação que se expressa nas formas
recorrentes de fomento e de percepção de imagens e narrativas. Ou, talvez, de
formas de olhar o Brasil, o mundo, o próprio cinema e também as instâncias
expressas do exercício crítico que atravessa essas formas de ver e
descrever(-se). </span><i style="text-indent: 36pt;">O som ao redor</i><span style="text-indent: 36pt;"> parece
ser maior – e maior – porque, uma vez lançado e visto, instaura um jogo das
cadeiras com as expectativas de certa sensibilidade previsível (lançando mão
aqui da ideia de cinema político de Jean-Louis Comolli). Estão, meses depois,
ainda tentando lidar com isso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E aí
lembramos novamente da camiseta. Nós, antigos leitores de Kleber, com algum
debate ou discordâncias ótimas, podemos talvez perceber, em seus filmes – e derradeiramente
em <i>O som ao redor </i>–, o desdobramento
de uma postura crítica que se realizava com ferramentas simbólicas muito
familiares de um universo pessoal (porque posto em público) de referências e
métodos. Se fizermos um julgamento que encontra afinidades em leituras de
Jacques Rancière, perceberemos com algum afeto que tanto em seus filmes quanto
em sua bibliografia de crítica de cinema há um esforço ético afim no que se refere
à produção de imagens – sendo palavras e imagens agentes irmãos na produção de
outras palavras e outras imagens.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7nHaVzgVx9A/UUo-X7TLSgI/AAAAAAAAACA/oRd8oChtjn8/s1600/recife+frio1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="'Recife frio'" border="0" height="265" src="http://4.bp.blogspot.com/-7nHaVzgVx9A/UUo-X7TLSgI/AAAAAAAAACA/oRd8oChtjn8/s400/recife+frio1.jpg" title="'Recife frio'" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">São sensibilidades que produzem a
ironia um tanto combativa de certas camisetas, uma postura cinéfila (no sentido
de ver, filmes e o que mais quer que seja, como um empreendedor) e uma
percepção do mundo atravessada por essa postura, que carrega a energia canônica
de Antonionis e Leones, mas também palpitações perante imagens incidentes e um
embrulho no estômago frente a certas formas marcadamente predatórias de uma
política de imagens, uma política tantas vezes espetacular.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="text-indent: 36pt;">É só lembrar o cinismo cúmplice
com as formas comuns de produção de imagem jornalístico-televisiva em </span><i style="text-indent: 36pt;">Recife frio</i><span style="text-indent: 36pt;"> ou a relação
erótico-fetichista como eletroeletrônicos e TVs em </span><i style="text-indent: 36pt;">Eletrodoméstica</i><span style="text-indent: 36pt;">: Kleber sai do espetáculo para rir do espetáculo e
voltar ao espetáculo para fomentar um espetáculo mesmo, mas também outro, jogando
os jogos a furtando peças. Afinal, uma camiseta é um refúgio pop com a solidez
urgente e ambivalente de um Che Guevara ou de um Joey Ramone. Foi feita para
ser vestida e para ser vista, assim como uma máquina de lavar roupa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essas
manifestações predatórias de mundo, no caso que concerne ao engajamento visível
de Kleber crítico-cineasta, produtor de imagens e produtor de imagens, respectivamente
por texto e por imagem, mas também por imagem e por texto, são as formas
especulativas de um espetáculo bilionário que se expressa por cidades tomadas
por caros cercados privativos apartados de uma ideia mais democrática de
partilha – ou, trocando apenas um termo, <i>imagens</i>
tomadas por caros cercados privativos apartados de uma ideia mais democrática
de partilha. Um sintoma bifurcado de um mesmo estado de mundo capitalista,
sobre o qual o cinema de Kleber (usando editais, textos, câmeras, ou encenações
em diversos dos âmbitos metodológicos de uma política de cinema) vai incidir.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não à toa,
os efeitos de <i>O som ao redor</i>, uma vez
presentes nas nossas filmografias, sintaxes, prefeituras e jornais, são capazes
de causar incômodo simultâneo (mas nunca desarticulado) nos imaginários pretensamente
progressistas de empreiteiros das cidades e de empreiteiros das imagens, vide a
polêmica, palavra empreiteira, entre o cineasta e um cara aí da Globo Filmes
(ou uma outra, recente, travada com/por um jornalista-blogueiro
pernambucano). São estratégias sempre singulares de acenar uma forma de ver e
dizer, mas aparentadas por um posicionamento contaminado por imagens de um
cineasta que vê e um crítico que faz filmes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Da primeira vez que vi <i>O som ao redor</i>, há um ano, me senti talvez assistindo a <i>um texto</i> de Kleber, sem me deter a obviedades semiológicas de que um texto era tanto um reduto de imagens compartilhadas quanto o é a imaginação cinéfila. Vi um filme claramente escrito nos parágrafos-esquetes que lhes eram próprios durante o exercício deliberado da crítica, enquanto a empregada sexualmente satisfeita cruzava Maeve Jinkings de bicicleta em uma frase aparentemente escrita por um Robert Altman hesitante. Daí percebia a mesma velha ironia – como a da tal camiseta –, particularmente em um comentário inesquecível e muito delicioso de Kleber sobre <i>Alvin e os esquilos 2</i> ou <i>3</i>, no qual crianças eram depositadas num shopping, e lá na tela estavam também as crianças e suas empregadas em seu bambolê-senzala depositadas na imagem. Fosse a comunicação torta dos habitantes da rua uma cena à <i>L’avventura</i> ou mais um esperado caderno de sexta-feira em que uma crítica de cinema foi escrita sobre uma reunião de condomínio feita para o YouTube. O protagonista de Gustavo Jahn, afinal, um personagem largamente apontado como alterego de Kleber pronto para ironizar, com as ferramentas ficcionais de uma empresa cinéfila, um <i>ao redor</i> feito para decantar com verve crítica e um sorriso no canto do rosto.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-05EQ3wvE_3c/UUpAZsSjcwI/AAAAAAAAACI/PqFkIwNkFPo/s1600/mko26.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Bastidores de 'O som ao redor'" border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/-05EQ3wvE_3c/UUpAZsSjcwI/AAAAAAAAACI/PqFkIwNkFPo/s400/mko26.jpg" title="Bastidores de 'O som ao redor'" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois, vi
o filme mais duas vezes. Por um ano, vez ou outra vinha à mente (vestido com a
camiseta).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A ironia da
camiseta, se formos nos manter na ordem redentora do pragmatismo, é a de que um
filme se dilata e transforma discursos em imagens do circo primeiro que é o
cinema: ser um filme do tamanho de <i>O som
ao redor</i> é abrir corredores em outros espaços equilibristas de mundo
condensado com a grandiloquência de salas de cinema. E o desequilíbrio das
antigas declarações cinéfilas de Kleber não encontra mais um jornal de lides
robotizados como clausura a ser desafiada, mas um catálogo de imagens reiteradas
em circuitos por onde correm também os esquilos, os empreiteiros e o cara da
Globo. <span style="text-indent: 36pt;">Os corredores abertos por </span><i style="text-indent: 36pt;">O som ao redor</i><span style="text-indent: 36pt;"> deixam como rastro uma estratégia
muito desconcertante (de novo) de certa expressão cinéfila que encontra, na
trincheira de sua própria forma de perceber o mundo – também especulativa e,
por que não, espetacular –, versão particular de um vigor renovado para a arte
crítica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 36.0pt;">
<o:p></o:p></div>
<!--EndFragment-->Luís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-39362421665702852892013-03-15T17:51:00.005-03:002013-03-15T17:51:25.557-03:00Na era dos blogueirosQuatro anos de jornalismo depois, acho que preciso de uma faxina.Luís Fernando Mourahttp://www.blogger.com/profile/01315355237256291448noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-61554175078984012372009-04-19T23:17:00.001-03:002009-04-19T23:18:42.770-03:00Entra em cena o off<div class="separator" style="text-align: left;clear: both; "><a href="http://3.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SevZxW0AMnI/AAAAAAAAAGM/bSYB76_yj2Y/s1600-h/suzanne_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SevZxW0AMnI/AAAAAAAAAGM/bSYB76_yj2Y/s400/suzanne_2.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /><div style="text-align: left;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SevZ7KB0wbI/AAAAAAAAAGU/Vq4Qzkc7mO4/s1600-h/suzanne_3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SevZ7KB0wbI/AAAAAAAAAGU/Vq4Qzkc7mO4/s400/suzanne_3.jpg" /></a></div></div><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">A Carreira de Suzanne (</span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Carrière de </span></span><em style="font-style: normal; text-decoration: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:inherit;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: small;">Suzanne), de Eric Rhomer, 1963, prosa cinematográfica. Às vezes o excesso poda, às vezes cabe.</span></span></em>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-54177909260688654092009-04-08T22:13:00.001-03:002009-04-08T22:17:39.612-03:00Veckatimest<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/Sd1Hc4LyeFI/AAAAAAAAAGE/hiAWD7bweuM/s1600-h/Veckatimest-Grizzly_Bear_480.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/Sd1Hc4LyeFI/AAAAAAAAAGE/hiAWD7bweuM/s320/Veckatimest-Grizzly_Bear_480.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>OK, o novo do Grizzly Bear tá tomando minha semana (porque o Brooklyn é a cada mais o lugar). Um dos meus discos preferidos de todos os tempos (com muito amor, mas sem pretensão de canonizar) é o Yellow House, desde Knife até Control and Remote e Marla. É uma das obras mais melodicamente suaves e nem por isso extremamente piegas que eu conheço. Aliás, acho que o CSS ter feito cover de Knife é um pouco ilustração dessa segunda ideia, já que eles são certamente anti-piegas, ainda que um tanto afetados mesmo assim. De qualquer forma, Yellow House também é um dos discos que me deixam naquele estado pré-choro, que quase sempre é o máximo que eu consigo atingir no quesito revival da emoção teenager (algo que eu só vivenciava com intensidade quando se tratava de destructive noises como em How To Disappear Completely).<br /><br />Veckatimest é bem menos apelativo quanto às sobreposições melódicas que atravessam todo o disco anterior do Grizzly Bear. No lugar destes devaneios da melodia existe é uma precisão bizarra (no bom sentido) em afiar as camadas harmônicas das canções, como se cada detalhe delas enfim se emancipasse, e cada impressão de conjunto (cada faixa ou mesmo o próprio álbum) fosse, ao mesmo tempo, uma colcha de retalhos imperceptíveis ou um lençol picado em que cada pedacinho fosse suficiente pra aquecer numa noite de frio. Cheerleader é a que, por enquanto, considero a mais linda, e também emblemática. É só observar - claro, sem se apegar aos pormenores - o crescente harmônico, esperando que ele se exceda e, ao mesmo tempo, desejando que não - e ele não se excede. Talvez por isso até pareça um disco menor. Li por aí alguns falando em maturidade. Ainda choro mais pelo anterior, mas o que me intriga é este aqui, que parece sintetizar num disco de banda pop - enfim, um disco grandiosamente pop - várias recorrências provocativas do avant rock dos últimos anos. Sem querer me viciar nesses maneirismos, dou 10.<br /><br />A propósito, nada a ver, mas Lula Queiroga me disse numa entrevista que o bom de lançar o terceiro disco é que as pessoas passam a considerar o conjunto de sua obra antes de falar qualquer coisa. Acho que com Veckatimest (ou com o Grizzly Bear, atualmente), ocorre um pouco isso. E esse disco é certamente uma obra ímpar.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-22781463914464895642009-04-01T02:33:00.001-03:002009-04-01T02:33:30.001-03:00A caminho de Maryland #4<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 10px; white-space: pre;"><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/pFxdDE0k1_Q&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/pFxdDE0k1_Q&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-84540126616439918272009-04-01T01:57:00.000-03:002009-04-01T01:57:57.147-03:00A caminho de Maryland #3<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdL0I_yaPTI/AAAAAAAAAF0/zhXTUgK3BN8/s1600-h/11_MHG_recife.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdL0I_yaPTI/AAAAAAAAAF0/zhXTUgK3BN8/s400/11_MHG_recife.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdL0J7IgkDI/AAAAAAAAAF8/IR7LBbpJLQY/s1600-h/baltimorecity.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdL0J7IgkDI/AAAAAAAAAF8/IR7LBbpJLQY/s400/baltimorecity.jpg" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-35067612934806863532009-04-01T01:51:00.000-03:002009-04-01T01:51:30.213-03:00A caminho de Maryland #2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdLyxMYQIhI/AAAAAAAAAFs/esUid3qsXjE/s1600-h/chico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdLyxMYQIhI/AAAAAAAAAFs/esUid3qsXjE/s400/chico.jpg" /></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-87840443371673401222009-04-01T01:46:00.001-03:002009-04-01T02:01:32.370-03:00A caminho de Maryland<span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:Arial;font-size:13px;">O esqueminha fora do eixo é mesmo invenção de Kátia Mesel. Baltimore, cidade mágica de onde surgiu o Animal Collective, no estado de Maryland, fica ali do ladinho de New York. É que quando li <a href="http://www.papermag.com/?section=article&parid=2680">isso aqui</a> , não consegui não pensar no hype Recife, que aliás eu normalmente nem entendo muito. OK, bairrismo ingênuo. Mas é que, apesar dos exageros, restam as coincidências. Porto e adeus de quem vislumbra um debut promissor na carreira e vai pros Brooklins da vida não tem em qualquer cidade do mundo.</span><div><div><span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:Arial;font-size:13px;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:Arial;font-size:13px;">Aliás, essa história de eixo é coisa que só faz sentido do terceiro mundo pradiante. Mesmo assim, lanço a charada: se Recife fosse Baltimore, nosso headliner musical seria... (essa é fácil, quem acertar ganha um chiclete de lama). É assim, de um lado temos o Panda Bear, do outro os crabs...</span></div><div><span class="Apple-style-span" style=" ;font-family:Arial;font-size:13px;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdLxkpaqnSI/AAAAAAAAAFk/FJIqDRT9BSg/s1600-h/PandaBear.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SdLxkpaqnSI/AAAAAAAAAFk/FJIqDRT9BSg/s400/PandaBear.jpg" /></a></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-72204427630737586972009-01-11T13:30:00.000-03:002009-01-11T14:01:35.015-03:00Très rouge<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SWol1-xhe5I/AAAAAAAAAFM/wPWHs9kR8vM/s1600-h/f_vermelhom_da8fb82.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SWol1-xhe5I/AAAAAAAAAFM/wPWHs9kR8vM/s400/f_vermelhom_da8fb82.jpg" /></a></div><br />
Só ontem vi o último episódio da trilogia das cores, após um imenso vácuo de tempo entre o dia que vi o segundo, A Igualdade é Branca. Cresci com o costume de, mesmo sem ter visto, considerar A Liberdade é Azul uma das pérolas de um cinema de possibilidades, dada a forte relação afetiva que minha mãe tem com este primeiro episódio, desde o seu lançamento. Por isso aprendi, quando finalmente assisti ao filme, a gostar de Juliette Binoche só pelo fetiche finesse francesa.<br />
<br />
Acontece que só anos depois assisti à Igualdade é Branca (e eu já tinha aprendido a gostar de Julie Delpy nos de Richard Linklater, mesmo sem entender), e cá estou eu um pouco transtornado após a exibição de A Fraternidade é Vermelha. Acho triste que a obra de despedida de Kieslowski seja a que mais me soou esquemática. As proposições do episódio, misturadas em uma falsa estética de mosaico, apresentam, como material bruto, a mentira cruel de que, para constituir uma complexidade para a moralidade das relações humanas, possamos cristalizá-la em um roteiro raso de frases - francesas - de impacto, baseado em uma implementação estruturalista da teoria do caos - portanto, pequeníssimo. Não sei se é qualquer tipo de maturidade, mas prefiro a memória densa - e azul - de Binoche na piscina, a leveza consciente, pálida, de Delpy, ao vermelho amargo de Jacob, síntese de um existencialismo kieslowskiano que, nos anos 90, tornou-se taxativo. Se seu cinema é o cinema do detalhe, fico mesmo com a boa lembrança de pequenos (porque delicados) instantes da trilogia, mas saio dela com a impressão de que, da minúcia, a busca de Kieslowski passou a ser grandiosa demais, apontada ao que é intangível.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-64636370154647730302009-01-11T09:28:00.002-03:002009-01-11T09:59:04.972-03:00Vampirizando os gêneros<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SWnspbqnyrI/AAAAAAAAAFE/gMMS_tjAJWE/s1600-h/goncalo-flora-morte-01.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 267px;" src="http://4.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SWnspbqnyrI/AAAAAAAAAFE/gMMS_tjAJWE/s400/goncalo-flora-morte-01.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5290019433868675762" /></a><div style="text-align: center;"><br /></div>Em A favorita, Flora passou de mocinha dúbia e misteriosa a vilã, ainda dúbia, e enfim tornou-se completa e caricaturalmente cruel. Mais recentemente, porém, a ambigüidade voltou, após o autor revelar, em diálogos entre os personagens: Donatela, a então mocinha (mesmo que, em algum momento de sua história, razoavelmente multifacetada) deseja derrubar Flora, a todas as custas, movida por ódio mortal, enquanto a vilã, ainda que perversa, homicida e psicopata, deseja, sim, afundar Donatela em desgraça, mas por motivação de um incrível amor recalcado.<br /><br />Enquanto isso, as sequências essenciais da novela - aquelas que de fato movem os personagens principais num universo de espaço, tempo e tema - contornaram o que fora um inicial fracasso comercial da novela, quando todos os televisores se desligaram. Agora, a novela suga os tipos da melhor ficção emblemática de horror trash, noir e de perseguições tensas: os momentos-chave tornaram-se sanguinolentos e apoteóticos e a encenação, por onde Flora passe, reveste-se (esse é o verbo: tudo é declaradamente artificial) de pompa e tosquice. Mas isso não é defeito. A favorita enganou o tempo todo e, mesmo quando disse, preferiu não se entregar ao dito e feito, fazendo, até o fim, um caminho (difícil de trilhar, por questões técnicas e mercadológicas) de resistência, às vezes falha, à caretice da teledramaturgia.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-89013261260030850512009-01-09T16:21:00.001-03:002009-01-09T16:28:37.243-03:00Consolo progressista<a href="http://valorarcaico.blogspot.com/">Fábio</a> me deu vontade (e incentivou a coragem) de escrever de novo. Como é janeiro, tempo de resolução e festa, vou dar uma chance a esses ímpetos, mas prometo a mim mesmo que, desta vez, vou tentar, com todas as forças, não fazer cena.<br /><br />Não escrevo mais de uma vez por dia pra não esgotar projeto em epifania.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-46881108924007262182009-01-03T12:26:00.001-03:002009-01-03T12:31:07.426-03:00Consolo obsoletoIa chorar a morte do trema. Graças a Deus, ainda existe Gisele Bündchen.<div><br /></div><div>Mas até que o idioma vai ficar mais charmosinho sem tanta bugiganga.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-42691263273343265132008-12-29T01:54:00.000-03:002008-12-29T02:04:54.423-03:00O melhor de 2008<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SVhaThBMJCI/AAAAAAAAAE0/fzsqI-6L6pE/s1600-h/portishead_third.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/_k8VJYzLSSQc/SVhaThBMJCI/AAAAAAAAAE0/fzsqI-6L6pE/s320/portishead_third.jpg" /></a></div><div style="text-align: left;"></div><div style="text-align: center;"></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-38405232829799403172008-12-29T01:49:00.001-03:002008-12-29T01:52:23.788-03:00Fim de anoE ainda não descobri se listas de resoluções são cumulativas.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-78785287044611236412008-11-25T03:21:00.000-03:002008-11-25T03:27:56.069-03:00Crise existencialVoltei pro Blogger porque gosto da liberdade que ele dá mas, confesso, já tô morrendo de saudade do Wordpress. Já tive uns 10 blogs, mas isso é inédito.<br />
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Pelo menos trouxe comigo meus posts, graças a um software anárquico e obscuro de um desses promotores de cultura livre (um pouco como esse <a href="http://draft.blogger.com/">Blogger Draft</a> macabro que acho que pouca gente conhece - e eu recomendo seriamente). Mais um ponto pro Google.<br />
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Estranho, como este espaço é meu há muito tempo, é como se eu estivesse voltando pra casa de uma viagem prum lugar distante. Tem até minhas memórias por aqui, é só fuçar o arquivo (e se preparar pra não passar por momentos constrangedores). E olha que elas são relativamente recentes.<br />
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Mas chega de mais um drama de editor. Cá pra nós, eu devo fazer parte de 1% das pessoas que fazem o caminho de volta. Dessa vez é ponto pra mim.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-34641840737666568902008-11-23T21:27:00.001-03:002008-11-24T04:11:27.453-03:00Atualizando<a href="http://nadamuitodoce.files.wordpress.com/2008/11/radiotour.jpg"><img src="http://nadamuitodoce.wordpress.com/files/2008/11/radiotour.jpg" alt="Ainda Brazil" title="Ainda Brazil" width="400" height="237" class="size-full wp-image-195" /></a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-43589202444889429982008-11-17T07:29:00.000-03:002008-11-24T03:17:14.680-03:00Por onde andasEsses dias tão bem complicados pra eu escrever por aqui. Mas não é abandono não, é só <a target="_blank" href="http://www.janeladecinema.com.br/janelacritica">isso</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-68683037928205002352008-11-03T21:18:00.001-03:002008-11-25T02:28:53.684-03:00RecoveringEm tempos de internet, além de fazer música, vídeo, MySpace e gororobas nos estúdios de mixagem, tem gente que faz orgia de covers. O Final Fantasy, por exemplo, fez um cover genial de Mariah Carey com a participação de Ed, do Grizzly Bear. Ele já tinha remixado a música Don't Ask, do primeiro disco da banda. Zach, do Beirut, fez cover de Knife, do Grizzly Bear, bêbado nas ruas de Paris. O próprio Grizzly Bear já tinha feito uma versão à capela da música caminhando pelas ruas parisienses. Até o Cansey de Ser Sexy já fez cover de Knife. Já José González, por outro lado, fez cover de Heartbeats, do Knife, desta vez a banda, que nada tem a ver com a música do grupo do Brooklyn. E, bem, o Grizzly Bear, que de alguma forma está no meio de todas essas histórias (e relançou seu próprio primeiro álbum remixado por um bocado de gente), fez um cover da sua própria música Knife, imitando o José González, que regravou Knife, mas não a música, e sim a banda. Acho que é mesmo o fim dos direitos autorais.<br />
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A original:<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 10px; white-space: pre;"><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/xuYZbYtAl9A&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/xuYZbYtAl9A&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></span><br />
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Auto-cover:<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 10px; white-space: pre;"><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Jjy2P0MSVlo&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/Jjy2P0MSVlo&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></span><br />
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Cover do auto-cover pelo amigo bêbado:<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 10px; white-space: pre;"><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/4SYlLxXX7zw&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/4SYlLxXX7zw&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></span><br />
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Cover mentiroso de um falso amigo:<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial; font-size: 10px; white-space: pre;"><object height="344" width="425"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/-IBX-48_8i4&hl=pt-br&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/-IBX-48_8i4&hl=pt-br&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-64789574820317394382008-10-28T16:49:00.001-03:002008-11-25T02:32:25.264-03:00Mais rapidinhas1. Alguns amigos vão a uma casa de veraneio e passam a tarde jogando videogame. Tudo bem, uma enorme pinta nerd. Nestas casas sempre há aqueles estranhos, parentes de um parente do seu amigo, que têm de conviver no mesmo espaço, ainda que, muitas vezes, não tenham muitas afinidades com você e seus comparsas. Pois não é que a conversa com uma estranha surge, até que, entediada, ela questiona, apontando pra televisão: - Por que vocês deixaram o videogame ligado nisso?<br />
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E o "isso" era, na verdade, um CD de música, do Guizado.<br />
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2. Parar de fumar não é mesmo um desejo meu, mas até que seria uma boa, se servisse de pretexto pra algo tão maravilhoso quanto isso <a href="http://cigarette-substitute.blogspot.com/">aqui.</a><br />
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<div style="text-align: left;"></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-51518205221607494602008-10-28T16:34:00.001-03:002008-11-25T02:34:21.188-03:00MobilesPra fazer meu comentário sobre as eleições americanas, nada como parafernália de internet.<br />
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<img alt="Organismos multicelulares" class="size-full wp-image-177" height="471" src="http://nadamuitodoce.wordpress.com/files/2008/10/2920856842_326814b5f4.jpg" title="Organismos multicelulares" width="276" />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-12572330300525999332008-10-21T18:08:00.001-03:002008-11-25T02:36:50.723-03:00BastidoresAnteontem vi um DVD de Santa Não Sou, filme de 1933, dirigido por Wesley Ruggles e estrelado por Mae West e Cary Grant. Uma espécie de do it yourself Corujão. Ia até falar alguma coisa sobre a produção, não fossem esses amores proibidos de Grant mais dignos do Google Search. São os primórdios do paparazzi com um ar primitivo de sex tape e uma pitada de crônica moderna gay. Na imagem, Cary Grant e Randolph Scott.<a href="http://nadamuitodoce.wordpress.com/files/2008/10/carygrantrandolphscottvia1930s.jpg"></a><br />
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<a href="http://nadamuitodoce.wordpress.com/files/2008/10/carygrantrandolphscottvia1930s.jpg"><img alt="Randolph Scott e Cary Grant" class="size-medium wp-image-173" height="300" src="http://nadamuitodoce.wordpress.com/files/2008/10/carygrantrandolphscottvia1930s.jpg?w=268" title="Randolph Scott e Cary Grant" width="268" /></a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38048135.post-45671607273634045772008-10-19T22:00:00.002-03:002008-11-25T02:39:42.297-03:00De volta pra ver o que dáDesapareci por algumas semanas, tive que me distanciar de um monte de coisas pra que então pudesse me aproximar novamente. Nesse tempo, aprendi algumas lições importantes, embora ache que quase todas só dizem respeito a mim mesmo. De qualquer forma, sempre há aqueles aprendizados que merecem ser mencionados. Por exemplo, o de descobrir que, pra alguns males, não há nada melhor que dirigir em alta velocidade na estrada ouvindo aqueles discos que fizeram sua cabeça há cinco anos atrás. Nostalgia mais adrenalina é melhor que qualquer rivotril.<br />
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Neste tempo de recesso, vi alguns filmes razoáveis, mas, como fui criado na polêmica e no sensacionalismo, só vou citar aqueles que geram controvérsia entre os fiéis - e dois quais preciso falar neste momento. Para nosso bem, porém, só me interessa aquilo que de fato chama atenção nestas obras (e que me incitam a experimentar aquele tipo dialético de incômodo). São elas Shortbus e Ensaio Sobre a Cegueira.<br />
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Shortbus. Tem muita gente falando bastante mal, sob a opinião de que é um filme que busca simplesmente o choque moral dos espectadores (e não sustenta esta escolha temática e visual na construção de personagens), e, de outro lado, uma série de amigos apaixonados pela bandeira da transgressão sexual, que levam o filme na gavetinha de tops. Discordo de ambos por um simples motivo: aqui não há busca por revolução de costumes. Embora Shortbus tenha excessos discursivos (personagens que carregam políticas específicas e, por vezes, óbvias, em seu percurso temático), apresenta um tratamento soft na problematização da sexualidade (e do sexo) que gera um produto livre de pretensões exageradas, carregado de naturalidade razoável. As cenas de sexo, por exemplo, embora vão desde a masturbação até a autofelação e a orgia em imagens explícitas, apresentam um timing pop - e uma busca fotográfica - que não exercitam a explicitude, mas procuram no sexo evidente os referentes necessários à construção narrativa. Pau aparece pra contar uma história e cu, casualmente, de um movimento do ator, enquanto o foco está mais interessado num plano médio desinteressado, embora crucial. Esta crucialidade diz respeito a determinada "moralização" dos personagens. O que é importante em Shortbus é realizar um movimento de naturalização do que, a princípio, supõe-se ser marginal.<br />
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Shortbus não é transgressor - e nem se propõe a ser - pois parte do princípio de que as imagens do mundo já estão banalizadas e enxerga, neste movimento, a potencial propulsão de uma assimilação de práticas sexuais como algo necessário, iminente, ausente de problemática moral (e, neste sentido, é politicamente discursivo). Assim, exerce, de certa forma, um mecanismo novela das oito de aproximar todos os arquétipos de uma marginal New York (que, em certo sentido, são universais) aos padrões tradicionais de uma burguesia branca ocidental - embora o processamento tenha em vista um público específico. Os amantes de Shortbus, eu diria, se o são por uma busca pela transgressão, consomem os produtos de uma microrevolução que pôde chocar, sim, mas há décadas, mais destacadamente nos anos 1970 (vide John Waters). Quem critica o filme, se o faz pela acusação fácil de que busca o impacto moral, deve se perguntar, primeiro, o quanto a obra é realmente capaz de chocá-lo. Talvez este seja o sentido em que ela melhor funciona. Certamente, o filme nasceu com seu público formado e isto o fez poupar-se de estratégias arriscadas.<br />
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O segundo. Sei que isso não vem à questão mas, pessoalmente, não acho que Ensaio Sobre a Cegueira seja digno do choro de Saramago, pois acredito que, se é possível comparar cinema e literatura (e principalmente a adaptação de um livro e o próprio livro), a obra falha exatamente onde o original é mais admirável. Fico pensando que o escritor teria chorado pelo pudor que lhe faltou e que, na obra de Meirelles, é tão violentamente explícito - terá entregado ao mundo um espécie de culpa cristã? De fato, deve ser extremamente desafiante transformar em imagem aquilo que, antes, fora narrado sobre a essência sociológica e filosófica do não-ver. Entretanto, os cacoetes do filme que, de uma outra maneira, concretizariam, no próprio exercício da visão, o limiar entre poder e não poder ver, caem num esquematismo moralizante distinto, que serve de dispositivo do que <em>deve</em> e <em>não deve</em> ser visto pelos grandes públicos.<br />
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O caso é, em certa medida, a oposição do que vemos em Shortbus. Em Ensaio Sobre a Cegueira, o original, os personagens estão imergidos em complexidades várias, de ordem moral, existencial e sociológica. O fato de não terem nome, por exemplo, me soa bastante simbólico. Se, no filme de John Cameron Mitchell, personagens são relativamente simples, narrados em um tom crônico de folhetim, o nobel Saramago está longe de tocar a superfície, aprofundando o exercício visionário de desconstruir as relações humanas - o que, transposto para a tela, tem sim a potência da aniquilação dos pudores e do embate estratégico com a escatologia mundana, o que seria capaz de nos amedrontar e espantar platéias de cinema.<br />
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Por conseguinte, se, em Shortbus, os olhos são abertos, com uma leveza que escapa à perigosa ênfase excessiva ao que poderia causar impacto moral, no livro de Saramago a crueza narrativa é precisa, sem estratagemas de melodrama, mas sem vergonha do mundo. O que não parece ter ficado claro, para Meirelles, é que, na obra original, todos nós somos cúmplices da mulher do médico e podemos ver tudo. A ironia é ele tentar justamente nos cegar quando, enfim, poderíamos assistir à epidemia da cegueira branca: o que não devemos ver? E o golpe baixo é que a cegueira do espectador, através de recursos after de enfoque, desfoque, esbranquiçamento da imagem, montagem dentro do frame, se, por um lado, nos privam de assistir a facetas da degradação explícita, por outro reforçam um artífice desespero de não dever enxergar, que julga previamente o roteiro e acusa de qualquer maldade aquelas imagens inexistentes: o quanto não devemos ver para que vejamos mais do que deveríamos? Por outro lado, o personagem de Danny Glover, que encarna um narrador-personagem outrora inexistente, toma para si a paradoxal e inadequada posição daquele que vê além. Assim, se determinados recursos, em outro momento, privam o espectador da visão, estes excedem aquilo que cabe à narrativa mostrar. É a narração em off que explica as transformações conseqüentes à epidemia, para que o espectador não se sinta perdido naquele universo sem-lugar de (im)possibilidades e, ao final do filme, para que qualquer experiência metafórica fique clara, forja uma genial declaração evidentemente indispensável: "a mulher do médico sente-se cega quando vê". Ironia maior é que esta seja uma máxima que serve a nós mesmos, que assistimos a tudo aquilo.<br />
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Não tão de repente, prefiro Mitchell no quesito sinceridade.Unknownnoreply@blogger.com0