29.8.08

25.8.08

Um em dois



Este é o video da música Deixa, do projeto Dois em Um. Trata-se de uma dupla formada por Luisão Pereira, produtor musical e multiinstrumentista e Fernanda Monteiro, violoncelista, um casal baiano que tem um trabalho lindo. Eles já atuaram no miolo do mainstream chato nacional (do tipo Skank e Kid Abelha), no apoio em arranjos e execuções, além de fazerem trilhas para comerciais e filmes (aparentemente, nada que chame muita atenção). No ano passado, lançaram 5 músicas num EP via MySpace (www.myspace.com/doisemum) e não passaram indiferentes a um selo americano, que ainda não descobri qual é, que os contratou. O que sei é que o disco de estréia está marcado pra ser lançado esse mês, lá nos EUA. Quanto a Samuel Rosa e cia, perdeu preiboi.

E não que isso seja algo raro atualmente, mas é legal que eles gravaram o EP inteiro em casa. O clima tosquinho mais o apelo Nara Leão batem no meu ponto fraco.

20.8.08

Não é o videogame, mas poderia ser

E, sim, o nome é por causa do jogo. Também não fiquei tão empolgado com a programação do Coquetel Molotov, mas tem algo que ninguém falava e não tenho a menor dúvida de que vai ser foda (isso se o tornado cinepe-wannabe-like-need-to-meet-my-friends deixar alguém ouvir): Final Fantasy.



Este é o projeto solo de Owen Pallet, que já trabalhou com Arcade Fire, Grizzly Bear, Beirut, Six Organs of Admittance, entre outros. É tanto que nem o Playstation segura. E tem uma pitada gay tão genial e anárquica (destaque para o nome do segundo disco e da faixa He Poos Clouds) que eu li This Lamb Sells Condos como This Lamb Sells Condoms. Mas aí é coisa minha mesmo...

De volta, se bem que

Hoje disseram que, na hora de escrever, eu tenho tique de jornalista. Fiquei morrendo de medo, se bem que

Nunca pensei que um dia me diriam isso, se bem que

Eu nem sei se queria, nem sei se não queria, mas acho mesmo é que querer esse tipo de coisa não é muito pra gente como eu. Assim

11.8.08

Manhã

1. Hoje vivi um modo totalmente rewind. Existe todo aquele imaginário do funcionalismo público pouco fodendo pra você e eu nunca levo isso tão a sério, acho discurso total lugar comum. Semana passada, mesmo, fui atendido por uma funcionária super prestativa, eficaz e preocupada, que me recebeu com um sorriso, deu todo o apoio e melhorou meu dia. Não é que hoje, depois de um "oi" murcho, eu percebi que ela simplesmente não me reconheceu? Ainda perguntei "não lembra de mim?" e ela fez cara de irritada e disse "são muitos, né? Conte sua história que talvez eu lembre". Resultado é que eu acho que ela não lembrou mesmo e ainda me fez esperar enquanto conversava sobre o programa do domingo com as colegas de gabinete. No final deu um tapinha nas minhas costas e um boa sorte que pra mim soou extremamente melancólico.

2. Resolver burocracias à força às vezes é bom pela experiência diferente. Você vai pra um lugar diferente, conhece gente diferente, dinâmicas completamente diferentes e, quando não tem dinheiro, ainda pega aquela linha de ônibus que você nem sabia que existia. Hoje mesmo conheci uma parte bonita do bairro do Santo Amaro e finalmente descobri o que é o mercado de Santo Amaro. Adoro esses redutos refratários dos anos 50, com açougue, armarinho e clima pré-urbano. Peguei um ônibus qualquer na Cruz Cabugá, em frente ao mercado, e vi tanta gente que vinha de longe que me senti numa cidade grande. Pedi orientação a um cara bonito e legal que conversou um pouco comigo. No fim das contas, ele me deu um papel da igreja adventista "pra ler no ônibus". Foi a primeira vez que eu guardei um papel de igreja. Acho que soou como um boa sorte sincero.

6.8.08

Mais uma história de Internet

Dei de cara com uns sites que tão discutindo um projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, do PSDB-MG. Azeredo quer "combater" o famoso cibercrime, enrijecendo os mecanismos de fiscalização de práticas dos internautas, através de propostas que prevêem, por exemplo, a divulgação de dados de acesso dos usuários por parte dos provedores, que seriam alguma coisa como detetives coadjuvantes.

Conheci a história através de uma petição encabeçada por acadêmicos, contra o projeto, que já conta com mais de 100 mil assinaturas e se encontra neste link. Imediatamente achei a proposta um absurdo e marquei meu nome no abaixo-assinado. Eis um trecho do texto de protesto:


Um projeto de Lei do Senado brasileiro quer bloquear as práticas criativas e atacar a Internet, enrijecendo todas as convenções do direito autoral. O Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo quer bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se tornem delatores de seus usuários, colocando cada um como provável criminoso. É o reino da suspeita, do medo e da quebra da neutralidade da rede. Caso o projeto Substitutivo do Senador Azeredo seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de um dia para outro, em criminosos. Dezenas de atividades criativas serão consideradas criminosas pelo artigo 285-B do projeto em questão. Esse projeto é uma séria ameaça à diversidade da rede, às possibilidades recombinantes, além de instaurar o medo e a vigilância.

Em seguida fui procurar o projeto, mais a título de curiosidade mesmo, e caí na página do senador. Ele se explica à sociedade, em artigo publicado na Folha de S. Paulo. De acordo com o senador, o projeto pretende garantir punição a praticantes de delitos como "difusão de vírus, guarda de material com pornografia infantil, roubo de senhas, estelionato eletrônico, clonagens de cartões e celulares, e racismo quando praticado pela internet". O trecho a seguir desmente completamente o que diz a petição:


O Projeto de Lei não trata de pirataria de som e vídeo nem da quebra de direitos de autor, que no Brasil são matérias já tratadas por leis específicas. E não serão atingidos pela proposta aqueles que usam as tecnologias para baixar músicas ou outros tipos de dado ou informação que não estejam sob restrição de acesso. A lei punirá, sim, quem tem acesso a dados protegidos, usando de subterfúgios como o phishing, por exemplo, que permite o roubo de senhas bancárias.

Saí desse texto meio atordoado, me sentindo partidário de um radicalismo e não consegui achar o projeto completo em canto nenhum. Ironicamente, o que refrescou minha consciência foi uma reportagem bem completa no G1. O que deu pra perceber é que, por um lado, o texto da petição é extremamente radical e sequer procura explicar o projeto numa dimensão mais ampla, fazendo um blabla óbvio sobre internet, liberdade de expressão e um socorro, preciso deixar meu P2P ligado. De outro lado, as declarações do senador são extremamente cínicas e simplistas, já que ele faz questão de ignorar a ambigüidade do artigo 285-B, que criminaliza a ação de "obter ou transferir, sem autorização ou em desconformidade com autorização do legítimo titular da rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, protegidos por expressa restrição de acesso, dado ou informação neles disponível", que quer dizer, mais ou menos, nada ou tudo, dependendo do ponto de vista. Pode significar, por exemplo, que acessar um site já pode ser considerado crime, uma vez que os dados são armazenados na memória RAM. Ou pode significar que se caracterize crime apenas a prática de burlar um sistema e infiltrar-se num banco de dados.

O argumento de Azeredo diz respeito à velha história da jurisprudência. Tudo bem, os juízes vão ter bom senso pra discernir. Ou não? O contra-argumento é que pode haver abuso de poder de certas autoridades, e o poder oficial, a gente sabe, está sempre coligado à corporação do bolso. Por isso, volto a ficar tranqüilo e certo da minha assinatura na petição, não pela defesa do radicalismo, e sim a favor da clareza na hora de escrever uma lei, de forma que ela não nos trate como idiotas.

5.8.08

Estranho é

Ter um bocado de coisa pra falar e sentar na frente do wordpress e não falar nada. Esse papo metalingüístico de blog me lembra sempre uma coisa e, atualmente, uma outra. Vou começar pela primeira mesmo, só porque a segunda é fato novo e eu quero transgredir o esquema lead.

A primeira é, mais ou menos como o assunto gira em torno de seu próprio umbigo, ou seu cordão umbilical temático, a lembrança que gira em torno da sua própria prática. Eu sempre tive blog pra escrever sobre escrever em blog e isso deve acontecer provavelmente porque a vontade de falar e a dificuldade de ponderar e executar sempre foram o que de maior gritou aqui dentro. Foi assim antes das crises de depressão da adolescência, quando eu escrevia pra minha mãe ficar feliz, durante as crises depressivas, é claro, quando eu escrevia pra ninguém pra ficar um pouquinho mais contente com a tristeza e quando eu resolvi deixar a melancolia de lado e forçar um humor antiquado ou uma graça enfadonha. Agora que eu (acho que) passei um pouquinho além de tudo isso, mais ou menos quando eu passo algum tempo sem vontade de escrever quase nada e não gosto muito de quase nada que eu escrevo, me vejo voltando ao passado infantil, ao flagelante-adolescente, e também a algum passado não tão distante. Só pra constar, eu acho.

A segunda coisa é o novo de Murilo Salles, Nome Próprio, que vi na mostra de 10 anos da Fundaj, seguido por um debate bem estranho com o realizador. Nunca li nada de Clarah Averbuck, mas entendo bem o que se passa e esse desconforto com o universo yuppie da puta que pariu. Rolou uma discussão bem pesada, já que, de um lado, Murilo enfatizava que o objeto central do seu filme é a mulher e a comunicação do cinema numa era de novas tecnologias e a alteridade e a exploração do personagem e, do outro, era acusado de fazer um filme sobre uma geração que não conhecia, caindo no estereótipo da juventude autoreferente-bêbada-chapada-individualista. Aonde quero chegar: Leandra Leal faz, sim, o papel de uma personagem profundamente explorada e toma o poder de centralizar todo o filme na sua psique desesperada (ainda que, na minha opinião, não a sustente o tempo inteiro) e, sim, o filme dinamiza as possibilidades cinematográficas de uma comunicação que perpassa por relações na internet, através da tela de um computador (desafio para o qual não vi muitas soluções realmente interessantes por aí e que, neste caso, não impressiona, mas não incomoda). Mas salta aos olhos a moldura de filme geracional, o conceito anos 90 pedindo pra ser registro (embora a gente identifique facilmente algumas falhas de direção de arte, numa cadência entre internet discada e celulares flip, aqui contemporâneros). Só que o que é interessante é que, mesmo caindo num buraco que eu acho extremamente megalômano de discurso - Murilo Salles parece só querer falar do que lhe é alheio - Nome Próprio consegue até se safar. Aí não sei por quê, não sei por onde, e acho que de repente sei que é porque a literatura de Clarah salta às telas (literalmente) e, bem ou mal, o discurso da jovenzinha drogada que escreve em blog e da condenação espiritual da coletividade gera uma personagem egoísta, mas profundamente profícua. Estranho esse poder dos blogs.