11.1.09

Très rouge


Só ontem vi o último episódio da trilogia das cores, após um imenso vácuo de tempo entre o dia que vi o segundo, A Igualdade é Branca. Cresci com o costume de, mesmo sem ter visto, considerar A Liberdade é Azul uma das pérolas de um cinema de possibilidades, dada a forte relação afetiva que minha mãe tem com este primeiro episódio, desde o seu lançamento. Por isso aprendi, quando finalmente assisti ao filme, a gostar de Juliette Binoche só pelo fetiche finesse francesa.

Acontece que só anos depois assisti à Igualdade é Branca (e eu já tinha aprendido a gostar de Julie Delpy nos de Richard Linklater, mesmo sem entender), e cá estou eu um pouco transtornado após a exibição de A Fraternidade é Vermelha. Acho triste que a obra de despedida de Kieslowski seja a que mais me soou esquemática. As proposições do episódio, misturadas em uma falsa estética de mosaico, apresentam, como material bruto, a mentira cruel de que, para constituir uma complexidade para a moralidade das relações humanas, possamos cristalizá-la em um roteiro raso de frases - francesas - de impacto, baseado em uma implementação estruturalista da teoria do caos - portanto, pequeníssimo. Não sei se é qualquer tipo de maturidade, mas prefiro a memória densa - e azul - de Binoche na piscina, a leveza consciente, pálida, de Delpy, ao vermelho amargo de Jacob, síntese de um existencialismo kieslowskiano que, nos anos 90, tornou-se taxativo. Se seu cinema é o cinema do detalhe, fico mesmo com a boa lembrança de pequenos (porque delicados) instantes da trilogia, mas saio dela com a impressão de que, da minúcia, a busca de Kieslowski passou a ser grandiosa demais, apontada ao que é intangível.

Vampirizando os gêneros


Em A favorita, Flora passou de mocinha dúbia e misteriosa a vilã, ainda dúbia, e enfim tornou-se completa e caricaturalmente cruel. Mais recentemente, porém, a ambigüidade voltou, após o autor revelar, em diálogos entre os personagens: Donatela, a então mocinha (mesmo que, em algum momento de sua história, razoavelmente multifacetada) deseja derrubar Flora, a todas as custas, movida por ódio mortal, enquanto a vilã, ainda que perversa, homicida e psicopata, deseja, sim, afundar Donatela em desgraça, mas por motivação de um incrível amor recalcado.

Enquanto isso, as sequências essenciais da novela - aquelas que de fato movem os personagens principais num universo de espaço, tempo e tema - contornaram o que fora um inicial fracasso comercial da novela, quando todos os televisores se desligaram. Agora, a novela suga os tipos da melhor ficção emblemática de horror trash, noir e de perseguições tensas: os momentos-chave tornaram-se sanguinolentos e apoteóticos e a encenação, por onde Flora passe, reveste-se (esse é o verbo: tudo é declaradamente artificial) de pompa e tosquice. Mas isso não é defeito. A favorita enganou o tempo todo e, mesmo quando disse, preferiu não se entregar ao dito e feito, fazendo, até o fim, um caminho (difícil de trilhar, por questões técnicas e mercadológicas) de resistência, às vezes falha, à caretice da teledramaturgia.

9.1.09

Consolo progressista

Fábio me deu vontade (e incentivou a coragem) de escrever de novo. Como é janeiro, tempo de resolução e festa, vou dar uma chance a esses ímpetos, mas prometo a mim mesmo que, desta vez, vou tentar, com todas as forças, não fazer cena.

Não escrevo mais de uma vez por dia pra não esgotar projeto em epifania.

3.1.09

Consolo obsoleto

Ia chorar a morte do trema. Graças a Deus, ainda existe Gisele Bündchen.

Mas até que o idioma vai ficar mais charmosinho sem tanta bugiganga.