5.8.08

Estranho é

Ter um bocado de coisa pra falar e sentar na frente do wordpress e não falar nada. Esse papo metalingüístico de blog me lembra sempre uma coisa e, atualmente, uma outra. Vou começar pela primeira mesmo, só porque a segunda é fato novo e eu quero transgredir o esquema lead.

A primeira é, mais ou menos como o assunto gira em torno de seu próprio umbigo, ou seu cordão umbilical temático, a lembrança que gira em torno da sua própria prática. Eu sempre tive blog pra escrever sobre escrever em blog e isso deve acontecer provavelmente porque a vontade de falar e a dificuldade de ponderar e executar sempre foram o que de maior gritou aqui dentro. Foi assim antes das crises de depressão da adolescência, quando eu escrevia pra minha mãe ficar feliz, durante as crises depressivas, é claro, quando eu escrevia pra ninguém pra ficar um pouquinho mais contente com a tristeza e quando eu resolvi deixar a melancolia de lado e forçar um humor antiquado ou uma graça enfadonha. Agora que eu (acho que) passei um pouquinho além de tudo isso, mais ou menos quando eu passo algum tempo sem vontade de escrever quase nada e não gosto muito de quase nada que eu escrevo, me vejo voltando ao passado infantil, ao flagelante-adolescente, e também a algum passado não tão distante. Só pra constar, eu acho.

A segunda coisa é o novo de Murilo Salles, Nome Próprio, que vi na mostra de 10 anos da Fundaj, seguido por um debate bem estranho com o realizador. Nunca li nada de Clarah Averbuck, mas entendo bem o que se passa e esse desconforto com o universo yuppie da puta que pariu. Rolou uma discussão bem pesada, já que, de um lado, Murilo enfatizava que o objeto central do seu filme é a mulher e a comunicação do cinema numa era de novas tecnologias e a alteridade e a exploração do personagem e, do outro, era acusado de fazer um filme sobre uma geração que não conhecia, caindo no estereótipo da juventude autoreferente-bêbada-chapada-individualista. Aonde quero chegar: Leandra Leal faz, sim, o papel de uma personagem profundamente explorada e toma o poder de centralizar todo o filme na sua psique desesperada (ainda que, na minha opinião, não a sustente o tempo inteiro) e, sim, o filme dinamiza as possibilidades cinematográficas de uma comunicação que perpassa por relações na internet, através da tela de um computador (desafio para o qual não vi muitas soluções realmente interessantes por aí e que, neste caso, não impressiona, mas não incomoda). Mas salta aos olhos a moldura de filme geracional, o conceito anos 90 pedindo pra ser registro (embora a gente identifique facilmente algumas falhas de direção de arte, numa cadência entre internet discada e celulares flip, aqui contemporâneros). Só que o que é interessante é que, mesmo caindo num buraco que eu acho extremamente megalômano de discurso - Murilo Salles parece só querer falar do que lhe é alheio - Nome Próprio consegue até se safar. Aí não sei por quê, não sei por onde, e acho que de repente sei que é porque a literatura de Clarah salta às telas (literalmente) e, bem ou mal, o discurso da jovenzinha drogada que escreve em blog e da condenação espiritual da coletividade gera uma personagem egoísta, mas profundamente profícua. Estranho esse poder dos blogs.

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