14.7.08

Sem apologias e without apologies

Algumas pessoas me acharam radical quando falei que The Pervert's Guide To Cinema, de Slavoj Zizek, me cheirava a uma espécie de Telecurso 2000 acadêmico. Talvez eu tenha mesmo sido um pouco cruel. Mas aí agora há pouco tava relendo algumas críticas e caí num texto gigante de Ruy Gardnier, escrito sobre Dogville em 2003 para a Contracampo. Sagaz: "Dogville é menos uma evolução da forma e do relato cinematográfico do que uma refratária e reacionária estrutura de teatro filmado por televisão pública".

Como tava conversando com Hermano, Rodrigo e André, acho Ruy um dos críticos mais respeitáveis e, simultaneamente, mais odiáveis do Brasil. Mas este é um bom ódio, capaz de incitar uma experiência outra para quem busca consumir leituras de cinema. Os textos de Ruy são extremamente provocativos. De um sadismo filho da puta que reordena a observação de cânones, surpresas, produtos superestimados pela crítica arraigada. E justo porque o que é sedimentado é evitado e contorcido por ele que eu, ironicamente, não deixo de fazer outra relação deliberada. Ruy termina seu texto afirmando que, para Lars Von Trier, "filmar aquilo de que se gosta está fora de questão. Esse é até agora – e talvez sempre será – o limite do talento de nosso pastor dinamarquês".

Pois eu, que me movo a partir do egocentrismo manipulador - e, neste caso, transformador - do cinema idiotista de Lars Von Trier, digo que falar daquilo que se gosta está fora de questão para Ruy. Isso é o que há de melhor na sua visão rígida de cinema(s).

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