11.1.09

Vampirizando os gêneros


Em A favorita, Flora passou de mocinha dúbia e misteriosa a vilã, ainda dúbia, e enfim tornou-se completa e caricaturalmente cruel. Mais recentemente, porém, a ambigüidade voltou, após o autor revelar, em diálogos entre os personagens: Donatela, a então mocinha (mesmo que, em algum momento de sua história, razoavelmente multifacetada) deseja derrubar Flora, a todas as custas, movida por ódio mortal, enquanto a vilã, ainda que perversa, homicida e psicopata, deseja, sim, afundar Donatela em desgraça, mas por motivação de um incrível amor recalcado.

Enquanto isso, as sequências essenciais da novela - aquelas que de fato movem os personagens principais num universo de espaço, tempo e tema - contornaram o que fora um inicial fracasso comercial da novela, quando todos os televisores se desligaram. Agora, a novela suga os tipos da melhor ficção emblemática de horror trash, noir e de perseguições tensas: os momentos-chave tornaram-se sanguinolentos e apoteóticos e a encenação, por onde Flora passe, reveste-se (esse é o verbo: tudo é declaradamente artificial) de pompa e tosquice. Mas isso não é defeito. A favorita enganou o tempo todo e, mesmo quando disse, preferiu não se entregar ao dito e feito, fazendo, até o fim, um caminho (difícil de trilhar, por questões técnicas e mercadológicas) de resistência, às vezes falha, à caretice da teledramaturgia.

Um comentário:

andré disse...

não acompanhei a novela nem no final (e me arrependi), mas acho q isso justifica a frase de um tio meu q viajou pra espanha e perdeu vários capítulos: "tava com saudade dessa novela, ela parece um filme!".
hahauahauhaua
abraço,
andré.