21.9.08

Coquetel

Algumas impressões.

Do primeiro dia, só Guizado me chamou a atenção na Sala Cine. Alguém falou em progressivo, mas acho esse termo total passé. Guizado é legal porque brinca com a desconstrução já trivial de uma forma interessante - adoro as nuances eletrônicas e o papel do trompete por ali. E a empatia que rolou entre banda e público gerou um clima ótimo (apesar do calor cada vez mais insuportável). Vi também umas músicas do Bandini e pra mim soou como um Strokes que encontrou o vocalista ideal do Interpol no Rio Grande do Norte. OK, deu pro gasto da tendência mastigada.

No palco, não vi Julia Says porque morro de preconceito e depois me arrependi - ouvi dizer que surpreendeu algumas pessoas. Também não vi Cidadão Instigado inteiro, mas adorei o que assisti. Climão: swing e melodia na hora certa. Em Shout Out Louds eu já tava bêbado, não sei se era isso, mas dancei do começo ao fim. Não acho que a banda esteja entre as melhores que a Invasão Sueca já trouxe (ou entre as pré-Invasão, tipo o memorável Hell on Wheels de 2004) - aliás, as melhores suecas do Coquetel definitivamente não vieram em 2008 - mas achei divertidíssimo ainda assim.

Quanto ao debut (?) de Marcelo Camelo, dispenso alguns comentários sobre o público do Los Hermanos que, aliás, tornou alguns trechos de música inaudíveis. Não bastasse, quase ninguém ouvia a Magalhães, mesmo quando ela parava um pouquinho de chorar. Ficou nessa: gente gritando, a garota chorando no ombro, atrás do violão, cabeça baixa e o host com um sorriso gigante na cara, do tipo "eles não me esqueceram". Aí já sabe a regra, uma coisa sempre alimenta a outra.

Tirando isso, fiquei impressionado com a vida que o Hurtmold deu às músicas. Tudo ficou realmente muito bom - e, muitas vezes, mais interessante que o disco - ao vivo. Só achei bizarro o repeteco de duas músicas no show da Mallu, que convidou o Camelo e "dois banquinhos" pra tocar Janta (OK, a nova balada quase folk) e Morena, por que diabos (adoro essa expressão) sempre essa não sei. A desculpa foi que agora tudo ia ser feito sem chororô. Mas o melhor mesmo não foi a inteireza da cantora, e sim do público - que tava bem mais quietinho. Até escutei os hiperagudos do vocal.

No dia seguinte tava infernal pra entrar na Sala Cine - suecos inflaram a procura. E a oferta é aquele cubículo. Não entendo por que eles não aboliram de vez aquele espaço, ou contrataram pelo menos um mega sistema de ar condicionado. Fui tentar ver o Club 8, e além da péssima perspectiva de todo mundo em pé (Club 8 obviamente era show pro teatro), realmente tava impossível agüentar o abafado. Suei dois litros em duas faixas e desisti. Adoro a proposta da salinha e da programação gratuita, mas tenho me questionado sobre o quanto algumas coisas têm valido a pena.

No palco, também não vi Catarina (tudo bem, sou um baita preconceituoso). Mas não me arrependi porque a atração seguinte valeu todo o festival. Final Fantasy era uma grande expectativa minha e virou a melhor prova. O show foi todo lindo e, curioso, a técnica dos samplers é tão legal que saí com a sensação de que até quem odiou o som adorou o show e de repente até gostou um pouquinho da música. "Ele faz tudo sozinho!": Owen Pallet no palco é uma espécie particular de Discovery Channel musical, mas sem explicação pentelha.

A Magalhães, em seguida, pra mim bateu como uma garota com boas idéias patrocinada por empresários que montaram uma banda completamente fake. Aquela banda não é Mallu, ela é só aquela espontaneidade fofa (e não tão genial como se diz) com um bom background - e não um grupo de coroas vestidos de indie acendendo isqueiro. Espero que a coitada se salve das mazelas de referências que a indústria traz (e aproveite pra crescer com bebida, comida e mp3 das boas). Se tudo der certo, ela vai fazer sentido daqui a alguns anos.

Pra finalizar, Peter Bjorn e John. Quem conhece não conhece o PBJ backdrop. Que peso é aquele? Sem nem querer falar em Young Folks, a banda tem silêncios, bateria mensurada, brincadeira com sons e esquisitices boas da Suécia (esses No Ar tão me servindo pedagogicamente), pelo menos no Writer's Block, disquinho pop básico que eu decorei - aliás, eles não tocaram nada do novo ou foi impressão minha? Sem as músicas do Seaside Rock, que fiquei esperando, a apresentação ganhou uma força em todos os barulhos - guitarras pesadas, berros e bateria destruidora. Na medida do possível, o PBJ, de preto, gravatinha e traje de rock industrial, foi a mais pura banda punk clássica sueca fazendo sua performance para as garotinhas. Tirando a parte em que a deixa pro público não rolava (tudo silencia e ninguém canta ou as pessoas não batem palma após o fake end e a banda reclama ao público), todos os fatores "show de banda de rock" estavam meio que plagiados daquele imaginário óbvio. Mas o fato é que eu acho que funcionou. Adorei.

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