15.3.07

Pequenas misses, pequenas notas

Eu acho que Pequena Miss Sunshine ganharia o Oscar no quesito "peculiaridades". Não é preciso falar de Abigail Breslin, a menina mais fofa que fez um monte de gente chorar só de ficar de olhinhos molhados com o vovô (e merecia mil prêmios de melhor atuação mirim). Fiquei impressionado quando vi que Michael Arndt é roterista estreante. O cara conseguiu criar argumentos pra ganhar da Academia o Oscar de melhor roteiro no seu primeiro projeto. A propósito, sob minha humilde opinião, o trabalho não tem muitos traços hollywoodianos (e isso explica as poucas chances de levar o troféu de melhor filme). É só pensar no contraponto entre ele e Crash que, no ano passado, levou o maior prêmio com todas as alegorias da sensação e do lugar comum mais adoradas. Pequena Miss Sunshine tem uma leveza incomum no mainstream cinematográfico, que me lembra um pouco o clima de filmes como Sideways e Flores Partidas, cheios de sutilezas que brincam intermitentemente com o dramático e com o cômico, sem dissociá-los. Mas o fato é que, de qualquer forma, é um filme independente. E o curioso é que o orçamento de Crash ainda foi menor: US$6,5 milhões, contra US$8 milhões da saga de Abigail. Dois mais dois não é igual a quatro. Mas.

Jonathan Dayton e Valerie Faris, eis um casal de peculiaridades realmente curiosas. Os dois, casados, cheios de filhos, beirando os 50 anos, e trabalhando quase que necessariamente juntos há anos e anos e, mais engraçado ainda, na indústria de videoclipes. Pequena Miss Sunshine é o primeiro longa dos dois, depois de um currículo que contém trabalhos com Weezer, R.E.M., Smashing Pumpkins e coisas mais chatas como Offspring e Janet Jackson. Fico incrível com algumas tomadas primorosas do filme, como a (que não me sai da cabeça) cena do surto de Dwayne, no meio da estrada. O clima road tripping é fantástico, e não teria muito da força sem a trilha maravilhosa no fundo. Todo o ludismo da combe amarela pelos cenários meio verdes, meio azuis, meio vermelhos, sempre coloridos me fascinou. Enfim, o elenco primoroso que conflui, através de todos os conflitos (bem duros, inclusive) particulares a cada personagem para o fim da estrada que, entram os créditos, me deixa extremamente eufórico. Eu diria sorridente. Um filme tão duro e que faz você sair tão feliz do cinema. Sorrindo de verdade, tranqüilidade de horas. Nunca vi.

Próximo projeto de Michael Arndt: Toy Story 3, previsto pra 2009. Entenderam?

Foto do casal maravilha da direção:

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